Nascimento: 9/5/1866 Natural de Ubá (MG), transferiu-se com a família para Piranga (MG). Fez estudos secundários no Liceu Mineiro, em Ouro Preto (MG), matriculando-se, em seguida, na Escola de Minas de Ouro Preto, sem concluir o curso, por dificuldades financeiras. Trabalhou durante algum tempo na secretaria do Liceu Mineiro, transferindo-se depois para Juiz de Fora (MG), onde lecionou em escolas de ensino médio e trabalhou na redação do Jornal do Comércio e de O Farol. De 1911 a 1918, residiu na Europa. De volta ao Brasil, foi nomeado reitor do Ginásio Mineiro, em Barbacena (MG), e, em seguida, da Escola Normal de Juiz de Fora. Em 1930, de volta à Europa, foi discípulo de Adolphe Ferriere, tornando-se o introdutor das ideias de Claparède e Bouvet no Brasil. Foi membro fundador da Academia Mineira de Letras, em Juiz de Fora, ocupando a cadeira de número 19, para a qual escolheu como patrono o padre-mestre Joaquim José Correia de Almeida. Publicou Canções da aurora, Harpas das selvas e Versos (poesia), Borboletas negras (crônicas) e Uma campanha, coletânea de artigos em favor da candidatura de Hermes da Fonseca à presidência da República (1910). Sua vida é assim descrita por seu sobrinho Waldemar Lins: "Francisco [era] o mais franzino e alto de todos e um dos mais novos [de seus dezoito irmãos]. Felizmente, a familia numerosa (...) era de uma alegria quasi phantastica. Todo aquelle povo ria ás escancaras, por qualquer motivo, e quasi sempre sem nenhum motivo. (...) Francisco, tambem, acompanhava aquellas gargalhadas, e as delle eram estridentes, provocadoras; mas, tambem, era o unico que, ás vezes de repente, mettia-se em meditações, punha a mão no queixo e ficava grande tempo pensativo, olhos no vasto horizonte, sem pestanejar, absorto, contemplativo... Ninguem o arrancava, em taes momentos, dessa posição. Sua obrigação era carregar latas d'agua á cabeça, muitas latas, para toda a familia. Dizem que uma perna um pouco torta, que elle tem, deve-se a esse serviço. Lia extraordinariamente, em quarto fechado, sosinho. Aberto um cofre de nickeis, seu, esse dinheiro pediu o menino que fosse empregado na assignatura, por um anno, de um jornal de Paris. Tinha, desde essa edade, a mania do idioma francez. (...) Francisco Lins já tinha 15 annos (quando os filhos dos poderosos já teem o curso de humanidades) e apenas possuia preparo de escola primaria (e seus conhecimentos de francez) e os planos que fazia sozinho, em demoradas cogitações, ainda não se podiam realisar! Com a cabeça privilegiada cheia dos conhecimentos que a leitura lhe dera; vendo, dentro dos olhos, o que por fóra nunca vira: a capital do Brasil, a Europa e dentro desta a sua querida França; a bahia de Guanabara lavando á base, dia e noite, do pão de assucar; os montes que contornam a linda capital do paiz... e abria os olhos e via: uma pequena cordilheira de morros vermelhos cercando a velha e pequena cidade; um rio de agua crystalina, tortuoso (rio Piranga) quebrando-se preguiçosamente sobre pedras de cascalho (...). Uma manhã, a casa das risadas infernaes apparecera em gritos, choros, matinada... Tinha fugido o menino! (...) Dias depois, estava explicado: o menino seguira, a pé, acompanhando uma caravana, para Ouro Preto, para empregar-se. Quatorze leguas a pé, e sem dinheiro para ficar naquella então capital nem um dia! Alli, depois de uma luta terrivel, depois de haver dormido sobre umas mezas de padaria junto á casa do Comendador Painhas, na Praça da Liberdade, já quasi faminto, dirigiu-se á ccasa de um portuguez, Fructuoso Gomes Monteiro, da rua Tiradentes, casa de ferragens, e contou-lhe seu infortunio. O negociante, a principio, respondeu como respondem todos: 'vá amolar outro, moço'; o menino, porem, insistiu e, para encurtar a narrativa, passou a trabalhar nessa casa a 20$000 por mez, com casa e comida. Mezes depois, o negociante viu que estava deante de um caso de assombro (o serviço de escripta e redacção que o menino tinha...) e, sabendo que o rapaz estava a estudar preparatorios, propoz que elle transmittisse á sua filha as licções, e lhe daria (e deu por muito tempo) mais 50$000 por mez. Estava rico, o rapaz, com tanto dinheiro, relativamente áquelle tempo. Ficou lepido, passou a vestir-se como um dandy, de bengala, cartolinha, luvas, e era o orador forçado, cheio de admiradores, em todas as reuniões familiares e na praça publica, junto á estatua de Tiradentes. A mocidade só fallava em Chico Lins, Chico Lins. Poucos mezes depois, apparecia 'O Beija-Flor', em que collaboraram Olavo Bilac e outros, mas o dono do jornal e redactor-chefe era Francisco Lins. Versos, criticas, charadas, historietas com as moças ouropretanas, constituiam o objectivo desse jornalsinho. Foi um bohemio, perfeito gozador, ahi em Ouro Preto uns cinco annos. Aos vinte e um annos, apenas com uns tres preparatorios, é chamado a Juiz de Fóra e entra como redactor do maior jornal do interior, a esse tempo: 'O PHAROL', com José Braga na direcção, depois alli entrando - bem mais tarde - Belmiro Braga, Fonseca Hermes (irmão do marechal Hermes) e outros. Estava consagrado jornalista, estava feito! E ganhava como professor de francez - e que professor! - no Collegio Andrès, em licções particulares a moços e moças, e ainda era guarda-livros da importante firma Baptista de Oliveira & C. E releva ainda notar: o preparo delle não é só ahi. Conhecia o portuguez como quasi ninguem mais, em Minas, e era preparado em todas as outras materias. Em 1911, depois de uma campanha jornalistica fortissima, eis o homem realisando seu maior sonho: fallar o francez na Europa! O governo mineiro o designa para chefiar a missão mineiro no pavilhão da Exposição de Turim. Segue elle imediatamente (agora um gentleman! camarote de primeira, ouro para as despesas, criadagem, etc.). Fica em Turim o tempo necessario, e toca para todas as cidades principaes da Europa. Conversa só em francez com toda aquella gente, e em Paris os jornais annunciam a chegada do brasileiro escriptor francez! É admirado, alli, o talento desse homem singular, mas a cousa não pára ahi. O nosso homem, vê, um dia, o annuncio, num jornal de Berna (Suissa) de um concurso para professor de francez no Instituto Saint-Gall, dalli. Toca-se immediatamente para Berna(imaginem: capital do paiz onde, segundo se diz, não há um unico analphabeto e onde a litteratura classica é em francez!!!...) e inscreve-se. Tirou o lugar. É agora professor de francez em Berna, cargo que exerceu por sete annos a fio. Deixou-o por causa da guerra européa, e tornou ao Brasil em 1919. Apenas áqui chegado, soube que o lugar de reitor do Gymnasio Mineiro, em Barbacena, está vago. (...) Trinta e nove candidatos (padres, engenheiros, medicos, advogados, estavam a cobiçal-o, com os beiços molhados de gula) apresentavam pistolões de toda parte. A frente do Estado estava outro homem de febra (...). E não houve duvidas: Francisco Lins foi o nomeado. Exerceu, por bastante tempo, aquellas funcções. E vamos parar por aqui, porquanto estamos chegando ao fim, e tristemente: o homem que não pôde ser vencido pelos semelhantes, está sendo vencido pela lei natural: está hemiplegico, numa cama, em Juiz de Fóra!" Segue esta nota: "Justamente hoje, quando iamos levar ás officinas de impressão esta obra, recebêmos a communicação de haver fallecido em Juiz de Fóra, no dia 20 do corrente (20-4-1933) o grande mineiro Francisco Lins. Sua aureola, porém, fica brilhando nas alterosas, talvez ainda mais intensamente, com reflexos directos para as cidades em triangulo: Ubá - Piranga - Juiz de Fóra, onde esse poderoso espirito nunca será esquecido." Foi casado com Maria Eugênia Lins. Faleceu em Juiz de Fora (MG), em 20 de maio de 1933. (cf. Lins, Homens de febra, p. 118-125; Monteiro, Dicionário biográfico de Minas Gerais, v. 1, p. 356)