Nascimento: 11/5/1840 Natural de Santa Bárbara (MG). Casou-se, em Sabará (MG), em 27 de março de 1858, com seu primo Francisco Alves da Cunha Horta (Chico Horta), de quem teve o filho abaixo. Pedro Nava descreve-a assim: "Apesar de ser agradável de pessoa, muito clara, cabelos pretos, olhos esverdeados, fisionomia atraente, apesar de sua simpatia e comunicabilidade, apesar de seu extraordinário talento à flauta, tia Regina já ia pelos seus dezessete anos sem namorado, quando surgiu candidato à sua mão o primo Chico Horta, homem feito, de boa gente (...). Assim com música, protegido por D. Mariana e acolvitado por Dona Joaquina Carolina, o namoro ia algo como a lua-cheia nas noites de cantoria - quando de repente, o Luís da Cunha desconfiou, apurou e empacou. Então as atenções do Chico Horta com ele não eram desinteressadas e os rolos de fumo goiano que lhe eram oferecidos tinham outro objetivo? (...) Deixa estar. E ele disfarçou. Esperou até que o Chico pedisse. Recusou seco. Não serve porque minha filha é muito nova para trintão e o senhor faça o favor de não vir mais à minha casa. Aquilo foi um Deus nos acuda de dor de Menelau. O Chico Horta desaparecia de não ver a moça, que só aparecia aos domingos, na missa das cinco, assim mesmo guardada pelo cérbero paterno. Até que Dona Mariana levantou uma lista enorme de parentes dele e dela e era raro o que não tivesse dez, quinze e às vezes trinta anos mais que a mulher. E estavam todos muito bem casados. Luís da Cunha concordou, mas para aduzir logo, cinicamente, outro argumento. Não serve porque é parente. E proibiu as missas e confinou a filha no quarto. Começou nova luta. O mano Modesto José, Dona Joana Carolina, Dona Mariana, os parentes de Santa Bárbara, Caeté e Cocais, chamados ou de passagem, todos se juntavam para mostrar ao Luís da Cunha que sua família era um tecido de casamentos de primos em grau canonicamente interdito e até de casamentos incestuosos de tios e sobrinhas. Afinal Luís da Cunha concordou em retirar o argumento, mas logo apresentou maliciosamente outra razão. Não serve porque é pobre e minha filha é pobre. Dois sacos vazios não ficam em pé. (...) A ocupação de tia Regina, presa em casa, era chorar, rezar e ajudar minha bisavó a cuidar dos filhos menores. Ela é que penteava complicadamente minha avó e, para armar-lhe as trunfas, enchia-lhe a cabeça de papelotes. A Inazinha ia constantemente à casa da tia Joana, onde o Chico Horta era agora diarista, chorando as mágoas e pedindo proteção. Aos poucos ele foi atraindo minha avó. Aos poucos suprimiu suas desconfianças e conquistou-a a ponto de tê-la ao colo, de mexer-lhe nos papelotes e de substituí-los por bilhetes à namorada. Afinal estabeleceram correspondência e, à custa de meses de paciência, criaram um código musical de conversação. E tudo foi combinado nessa cifra sonora. Chegou a noite em que o Chico Horta passou devagar pela rua, tocando ao violão a modinha de Cândido Inácio da Silva 'Quando as glórias que goze...' A casa estava em profundo silêncio e Luís da Cunha pulou do catre furioso, ouvindo a flauta vitoriosa da filha que, no quarto, contestava com o lundu do Padre Teles 'Querem ver este menino..." Luís da Cunha abriu janelas, invectivou, ameaçou para a noite, gritou, quis bater, fez tudo silenciar e apagar. Mal sabia ele que as notas do Chico Horta, traduzidas, queriam dizer que os proclamas já tinham corrido na Matriz da Boa Viagem do Curral d'El-Rei e que as de tia Regina afirmavam que confiava em que ele marcasse dia e hora para casar. Na semana seguinte o Chico Horta fez germer os bordões com o 'Beijo a mão que me condena...' do Padre José Maurício e foi respondido com a modinha de Francisco Sá Noronha 'Alta noite tudo dorme...' Isso queria dizer que os cavalos estavam prontos e que ela saísse de manhãzinha para encontrar-se com ele no chafariz do Kakende. A flauta concordava. Estava tudo nesse pé quando, pela madrugada, bate à porta o mano Modesto José, que soubera do plano de fuga e vinha denunciar. Esperava-se que Luís da Cunha, como aquele Coronel Antônio de Oliveira Leitão, de Ouro Preto, também sangrasse a filha. Mas não. O homem contraditório chamou-a e disse brandamente que se quisesse casar, casasse. E dou-lhes minha bênção, coisa que eu e seu tio Modesto não tivemos de nossa mãe... Chegou à janela e, divisando o vulto que rondava na escuridão, chamou pelo nome, gritou, abriu a porta e mandou que entrasse o Chico Horta. Sente-se, primo, vamos conversar enquanto sua noiva nos prepara o café. O dia nascia. Casaram pouco tempo depois, a 27 de março de 1858, dia da festa de São João Damasceno e Santo Alexandre." Regina Virgilina faleceu em São Paulo, no dia em que completava 75 anos, 11 de maio de 1915. (cf. Nava, Baú de ossos, p. 118-122)