Nascimento: séc. XVI Cristã-nova, natural de Viana da Foz do Lima (Portugal). Residiu em Lisboa (Portugal) e em Pernambuco (Brasil). Casou-se em Portugal, antes de 1535-1540 (Mello dá a data de 1520), com Diogo Fernandes, de quem teve os filhos abaixo, ao que parece nascidos em Portugal, além dois outros, do sexo masculino, cujos nomes não foram conservados - o primeiro deles teria ingressado em carreira militar na Espanha, enquanto o outro é referido como um "aleijado" que, por isso, escrevia com os pés. Após a partida de seu marido para o Brasil, residindo ela ainda em Lisboa, foi denunciada pela mãe e pela irmã, que também estavam sendo processadas pelo Tribunal do Santo Ofício, por prática de judaísmo, tendo sido sentenciada, em 12 de setembro de 1543, a "abjuração pública, dois anos de cárcere e hábito penitencial, ficando reservada a sua comutação e dispensa". Em 1551 já estava em Pernambuco, para onde se transferiu com os filhos, passando a residir no Engenho Camaragibe, construído por seu marido. Conforme novas denúncias à Inquisição, após a sua morte (desta feita quando das visitas ocorridas no Brasil entre 1591 e 1595, sob a coordenação do Visitador Geral Licenciado Heitor Furtado de Mendonça), foi ela acusada de manter, em sua residência em Camaragibe, uma "esnoga" (sinagoga), em que os judeus da região se reuniam para cerimônias e se "adorava a toura" (Torah). Após o falecimento de seu marido, permaneceu dez anos à frente do Engenho de Camaragibe, o qual em seguida vende, mudando-se, com os filhos, para Olinda (PE), onde, na sua casa à Rua Palhaes, abre uma escola para meninas, em que ensina culinária e costura. Nas denúncias posteriores a sua morte, algumas de suas conhecidas e alunas relatam que, na sexta-feira à tarde, mandava lavar e esfregar o sobrado e trocava a roupa de cama, em preparação para o sábado, quando não trabalhava e, pela manhã, "se vestia com camisa lavada e apertava a cabeça com seu toucado lavado", vestia os filhos com o melhor vestido que tinham, jantava "mais cedo que nos outros dias e (...) chamava acima do sobrado as ditas suas filhas (...) e todos iam então jantar com ela (...), sempre uma iguaria que nunca comiam". Suas filhas e netas, processadas após sua morte, são unânimes em relatar que aprenderam com ela a fidelidade à lei de Moisés. Faleceu por volta de 1588. Sua fama só cresceu com o tempo, pois, como já observava Rodolpho Garcia, "de todos os cristãos-novos de Pernambuco, nenhuns foram mais acusados perante a mesa do Santo Oficio do que Branca Dias, seu marido Diogo Fernandes e suas filhas por cerimonias judaicas". Acredita-se que, quando dos processos contra seus filhos e netos, seus ossos teriam sido levados a Lisboa, para serem queimados em praça pública, o que parece ser produto das lendas criadas em torno de seu nome. Consta ainda que o nome do Riacho do Prata, no subúrbio Dois Irmãos, no Recife, se deveria ao fato de que, quando da chegada da Inquisição, Branca teria lançado nele suas joias, episódio celebrado por Carlos Drummond de Andrade num poema: "É acusada de judaísmo/ Já vão prendê-la/ Atira joias e prataria na correnteza/ A água vira Riacho de Prata/ Morre queimada no santo lume da Inquisição em Portugal/ Reaparece na Paraíba, em Pernambuco/ Sob o luar toda de branco/ Sandálias brancas e cinto azul-ouro..." A exploração literária mais conhecida de sua figura foi feita por Dias Gomes, na peça "O santo inquérito". (cf. Barreto, Os primitivos colonizadores nordestinos e seus descendentes, p. 158; Torre do Tombo, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, processo no. 5736 contra Branca Dias; Wikipedia; http://www.engenhocamaragibe.com.br/engenho-camaragibe-21.htm; Processo de Andreza Jorge christam noua natural e moradora no Brasil capitania de Pernambuco casada com Fernam de Sousa xpão nouo presa no carcere do Sancto Officio da Inquisição desta cidade de Lisboa, http://digitarq.dgarq.gov.pt/viewer?id=2306369; Ribeiro, O marranismo no Brasil colônia, p. 123-125; Mello, O nome e o sangue, p. 82-85)